sábado

Marcada pela Vida


Marcada pela Vida

Desde bem pequena me sentia diferente.

Não sei o porquê deste sentimento mas receava em relação ao meu pai e á sua saúde…Talvez pelo facto de não ser tão novo como o pai dos outros.

Á medida que o tempo foi passando fui pensando menos nesse medo, estava nos meus 16 anos e a viver o melhor do que a vida já me tinha dado (mais maturidade, mudança de escola, o descobrimento do amor, o NAMORADO), enfim todas as coisas que sempre sonhei viver.

Quando o meu medo de infância regressa, o meu pai não estava bem!

Era de noite, perto das 00:00h acordei com a minha mãe a chamar pelo meu irmão para que levasse o meu pai ao Hospital, chorei e pensei que talvez o pior pudesse acontecer…Mas não, ainda de madrugada o meu pai tinha regressado e foi descansar.

As coisas nos seguintes dias acalmaram-se, ele estava melhor, ate que tudo voltou a acontecer e novamente meu pai foi para o Hospital, mas desta vez para ficar internado, ainda nada sabia sobre o seu estado de saúde e o medo só aumentava, soube então que o meu pai iria ser operado, sentia que as coisas não estavam nada bem e que a minha mãe sabia mais do que o que me estava a contar.

Um dia antes da operação vi o meu pai segurar as lágrimas e a disfarçar para que eu não percebesse, eu própria estava a fazer um enorme esforço para não chorar, era tão grande a dor que sentia ao vê-lo assim.

Chegou então o dia depois de vinte e sete dias internado, era a operação!

O nervosismo era enorme, as horas pareciam que não passavam, as noticias não chegavam e cada vez o desespero era maior, ate que depois de cerca de oito horas de operação, fomos informados que ele já iria para o quarto.

Depois de tanto medo pude então ir ao pé dele, dei-lhe um beijinho e ele só me olhou, eu sabia que ele não poderia falar…

Já de noite e já em casa pensava nele, pensava o porquê dele estar a sofrer, o porquê de eu ter que passar por isto.

Uns dias mais tarde, ele regressou a casa, como foi bom, ver ele de novo em casa, no seu quarto, enfim no que lhe pertence, mas mesmo assim não parava de pensar no que ele tinha, e no porquê da operação, no dia seguinte vi a cicatriz enorme dele que atravessava a sua barriga de um lado a outro.

Sentia que a minha mãe me estava a mentir em relação á saúde do meu pai mas resolvi esperar…

Um tempo depois fomos a uma consulta e quando os meus pais saíram do gabinete médico, vi que o meu pai estava bastante triste, nem me falou, passou por mim e seguiu enfrente e aí finalmente a minha mãe resolveu falar comigo.

Disse-me uma frase que nunca vou conseguir esquecer: “Vânia tens que ser forte, o pai tem um tumor maligno e vai começar um tratamento”, foi como se o mundo parasse ali naquele instante, segurei as lágrimas, entrei para o carro e fiz-me de forte para que o meu pai não se preocupasse, já em casa falei com a minha mãe e pedi para me contar toda a verdade, doeu demais ouvir o que ela me dizia, parece que estava a dizer tudo aquilo que sempre tive medo de ouvir, revoltei-me e questionei tantas vezes o “tal porquê” ate hoje ainda estou sem nenhuma resposta, foi doloroso saber que o meu pai padecia de uma doença á qual fui informada que nada poderia ser feito.

Chorei, chorei, chorei, pensei em tudo que vivi com ele, desde pequena, tudo o que ele já me deu, tudo o que ele já me disse, das vezes em que a minha mãe vinha me bater e ele protegia-me, percebi que o que estava a viver era bem pior que um pesadelo, quis fechar os olhos e fingir que nada se passava, mas depressa me apercebi que era impossível, pois o que o meu pai tem é Cancro e não uma simples dor de cabeça, pesquisei na Net tudo sobre o “Cancro no Pâncreas” e cada vez mais desiludida ficava, li coisas que ainda me fizeram ter mais medo, com os dias a passar fui “ultrapassando” a revolta, o meu pai começou a Quimioterapia, confesso que o medo de ver o meu pai sem cabelo era grande, seria mesmo um choque mas felizmente tal coisa não aconteceu.

Foram várias as dificuldades que tive que ultrapassar, foram várias as noites sem dormir e sempre a chorar, em certas ocasiões tive que ser mesmo forte mais do que em algum momento fui para não chorar quando era o que mais queria fazer.

Por vezes penso no que o meu pai pensa, no que ele sente e sei que muitas vezes ele pensa que é o seu último dia.

Lidar com este medo, com esta injustiça, com esta doença não é nada fácil, mas o pior mesmo é que a notícia de que o meu pai é doente espalhou-se também ela como um cancro: de forma rápida e eficaz, tenho que ser bombardeada diariamente pelas mesmas perguntas sobre os malefícios, os tratamentos e todo o tipo de informações sobre o Cancro do Pâncreas.

Por muito que tente não dá para escapar, nem que seja a um simples olhar de pena quando passo, ou sussurros mal disfarçados que dizem claramente “Coitada tão nova e já vai perder o pai”.

Abomino estas situações, a curiosidade mórbida e vontade irresistível de chamar “Coitados” a quem tem um problema.

Não preciso que tenham pena de mim, preciso sim que as pessoas apoiem se for necessário, mas que não tentem exagerar naquilo que se está a passar.

Este mês fez um ano em que o meu pai foi operado e felizmente ainda o tenho aqui bem pertinho de mim, o medo ainda permanece mas a esperança é bem maior.

De facto a coisa mais injusta da vida é como ela termina.

Dedico todas estas palavras a ti:

António Gomes da Costa

MELHOR PAI DO MUNDO!

1 comentário:

  1. Os textos que esreves sobre o teu pai arrepiam-me, ja te disse isso muitas vezes.
    Ele é uma grande pessoa, tal como tu és babezinha.
    Tu sabes perfeitamente que só importa o sentimento um do outro. Os olhares ou mesmo as palavras dos outros são meras distracções. Coisas de derrotados, coisas de pessoas que nunca venceram na vida.
    O teu pai é um vencedor nato e algumas pessoas não sabem lidar com isso.
    Tu és a força dele, a pessoa que ele mais ama.

    -Tu sabes que eu vou estar sempre do teu lado melhor amiga. És parte de mim meu amor*

    AMOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO-TE MELHOR BABE DO MUNDO (L)

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